Imagem por: Pixabay / Leandro de Carvalho. |
Eu tenho uma história pra contar. Pode ser que não agrade a todos, mas trago aqui minha verdade. Provavelmente, eu já deva ter morrido. Afinal, pedi para que este texto fosse divulgado apenas quando isso ocorresse. Na verdade, este não é um texto convencional, pois tudo o que está dito aqui foi criptografado, decifrado e traduzido por algum especialista. Como sei de tudo isso se já morri? Simples, passei minha vida inteira me dedicando a observar as pessoas. Não fazia nada além do que era necessário para sobreviver e observar as pessoas.
Tudo ao meu redor, o que estava ao meu alcance, era visto e ouvido por mim. Sempre registrei bem todos os momentos mais importantes que aconteceram em minha volta. Já estive em vários lugares, mas não como todo mundo sempre está. Portanto, se alguém me via, logo chamava a atenção dessa pessoa pelo meu estado. Serei breve, ao criar esta história eu já completei mais de 40 anos de sobrevivência, mesmo após tantas dúvidas de minha longevidade. Sou cadeirante desde que nasci, nunca movimentei o meu corpo por conta própria, apenas sentia o toque, o cheiro, o sabor, ouvia os sons, via tudo que estava em minha frente.
Minha família foi, literalmente, meu alicerce. Sem meu irmão, por exemplo, eu não conseguiria ver o mundo que todos viam e me contavam lá em casa. Apenas ficava na imaginação, por muito tempo. E era tudo limitado a pequenas ideias através de registros em imagens, áudios ou vídeos. Pois ninguém nunca soube como eu olhava para o universo, se eu gostava do que comia, se sentia quando me tocavam, se me incomodava com algum odor, ou sequer se ouvia o que me diziam. Mas sempre estive atenta e sentindo todas as emoções possíveis, internamente. Meu conhecimento foi limitado, mas pude perceber como as coisas são. Sei da história de Jesus Cristo, o salvador da humanidade, que curou aleijados. Também sei da ciência, que é capaz de nos fazer saber de coisas inimagináveis.
Sofri, sim, e muito! Mas não deixei de ser feliz, mesmo que não pudesse demonstrar com um mero sorriso. Por vezes lacrimejei, porém nunca souberam se foi de alegria ou de tristeza, ou até mesmo de dor. Sempre suspeitavam que fosse sintoma de minha doença. Eu nasci assim, então só sou excluída de todos, mas sempre me senti presente em todas as rodas de conversa, apesar de não poder me manifestar. Meu problema gerou a incapacitação de mover qualquer músculo do corpo, também as pálpebras, que eram fechadas e abertas sempre no mesmo horário. Quando eu via alguém se aproximando quando algumas luzes estavam sendo apagadas eu já me preparava internamente para "ficar cega". Mas continuava a "observar" os ruídos da madrugada.
Logo que meus irmãos e primos ficaram adolescentes, eu percebia uma certa indiferença deles a meu respeito. Ouvia falarem em balada, rave, festas, mas nunca queriam a companhia de algum familiar. Quisera eu poder falar que só podia ir se fosse acompanhada de algum deles. Sempre tive vontade de conhecer esses lugares, mas nunca pude. Só sei que eles voltavam muito tarde. Às vezes, eu já tinha acordado e eles nem chegado. Mas sei que algo os fazia ficar com muito sono, muita fome, e muita dor de cabeça. Acho que até dor de barriga, pois não paravam de vomitar. Isso me dava uma sensação estranha... era algo que me embrulhava por dentro. Bom, talvez porque eu sempre sentia o gosto de meu próprio vômito. Não tinha como avisar!
Sempre tomei tanto medicamento que me considero uma viciada, drogada. Apenas fiquei sabendo que também sou assim quando minha prima começou a chegar em casa com um comportamento mais estranho do que o normal. Ela vinha sempre com alguma novidade, fosse peça de roupa, maquiagem, bichinhos de pelúcia, ... Mas suas atitudes não eram nada meigas, eram muito agressivas. Gritava muito, e eu mal entendia uma palavra. Depois falaram que ela usava drogas. E então ela falou que eu era tão drogada quanto ela, que eu vivia tomando essas drogas na veia, assim como ela. Mas ela não sabe que nunca me senti como ela, pois nunca pude expressar meus sentimentos.
Espero que, com essas minhas memórias, meus familiares possam me desculpar por todos os momentos tão ausentes em suas vidas. Mas tentem entender que, como sempre estive por perto, minha alma torcia para que as coisas dessem certo. Da mesma forma como ela vai continuar torcendo por essa família, que sejam todos felizes e livres, agora que já fui aos céus e segui meu caminho. E sempre, mas sempre, estarei lá de cima, onde tudo é mais bem visto, continuando a observar.
Tudo ao meu redor, o que estava ao meu alcance, era visto e ouvido por mim. Sempre registrei bem todos os momentos mais importantes que aconteceram em minha volta. Já estive em vários lugares, mas não como todo mundo sempre está. Portanto, se alguém me via, logo chamava a atenção dessa pessoa pelo meu estado. Serei breve, ao criar esta história eu já completei mais de 40 anos de sobrevivência, mesmo após tantas dúvidas de minha longevidade. Sou cadeirante desde que nasci, nunca movimentei o meu corpo por conta própria, apenas sentia o toque, o cheiro, o sabor, ouvia os sons, via tudo que estava em minha frente.
Minha família foi, literalmente, meu alicerce. Sem meu irmão, por exemplo, eu não conseguiria ver o mundo que todos viam e me contavam lá em casa. Apenas ficava na imaginação, por muito tempo. E era tudo limitado a pequenas ideias através de registros em imagens, áudios ou vídeos. Pois ninguém nunca soube como eu olhava para o universo, se eu gostava do que comia, se sentia quando me tocavam, se me incomodava com algum odor, ou sequer se ouvia o que me diziam. Mas sempre estive atenta e sentindo todas as emoções possíveis, internamente. Meu conhecimento foi limitado, mas pude perceber como as coisas são. Sei da história de Jesus Cristo, o salvador da humanidade, que curou aleijados. Também sei da ciência, que é capaz de nos fazer saber de coisas inimagináveis.
Sofri, sim, e muito! Mas não deixei de ser feliz, mesmo que não pudesse demonstrar com um mero sorriso. Por vezes lacrimejei, porém nunca souberam se foi de alegria ou de tristeza, ou até mesmo de dor. Sempre suspeitavam que fosse sintoma de minha doença. Eu nasci assim, então só sou excluída de todos, mas sempre me senti presente em todas as rodas de conversa, apesar de não poder me manifestar. Meu problema gerou a incapacitação de mover qualquer músculo do corpo, também as pálpebras, que eram fechadas e abertas sempre no mesmo horário. Quando eu via alguém se aproximando quando algumas luzes estavam sendo apagadas eu já me preparava internamente para "ficar cega". Mas continuava a "observar" os ruídos da madrugada.
Logo que meus irmãos e primos ficaram adolescentes, eu percebia uma certa indiferença deles a meu respeito. Ouvia falarem em balada, rave, festas, mas nunca queriam a companhia de algum familiar. Quisera eu poder falar que só podia ir se fosse acompanhada de algum deles. Sempre tive vontade de conhecer esses lugares, mas nunca pude. Só sei que eles voltavam muito tarde. Às vezes, eu já tinha acordado e eles nem chegado. Mas sei que algo os fazia ficar com muito sono, muita fome, e muita dor de cabeça. Acho que até dor de barriga, pois não paravam de vomitar. Isso me dava uma sensação estranha... era algo que me embrulhava por dentro. Bom, talvez porque eu sempre sentia o gosto de meu próprio vômito. Não tinha como avisar!
Sempre tomei tanto medicamento que me considero uma viciada, drogada. Apenas fiquei sabendo que também sou assim quando minha prima começou a chegar em casa com um comportamento mais estranho do que o normal. Ela vinha sempre com alguma novidade, fosse peça de roupa, maquiagem, bichinhos de pelúcia, ... Mas suas atitudes não eram nada meigas, eram muito agressivas. Gritava muito, e eu mal entendia uma palavra. Depois falaram que ela usava drogas. E então ela falou que eu era tão drogada quanto ela, que eu vivia tomando essas drogas na veia, assim como ela. Mas ela não sabe que nunca me senti como ela, pois nunca pude expressar meus sentimentos.
Espero que, com essas minhas memórias, meus familiares possam me desculpar por todos os momentos tão ausentes em suas vidas. Mas tentem entender que, como sempre estive por perto, minha alma torcia para que as coisas dessem certo. Da mesma forma como ela vai continuar torcendo por essa família, que sejam todos felizes e livres, agora que já fui aos céus e segui meu caminho. E sempre, mas sempre, estarei lá de cima, onde tudo é mais bem visto, continuando a observar.